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Arma de Chekhov: O Que é e Como aplicá-la na sua Escrita?

  • Foto do escritor: O. Erick Trautvein
    O. Erick Trautvein
  • 16 de nov. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 26 de nov. de 2024

Aprender técnicas narrativas é essencial para criar histórias que mantenham seus leitores envolvidos na trama.


Uma dessas técnicas é a Arma de Chekhov, Idealizada pelo dramaturgo e contista russo Anton Chekhov (daí vem o nome esquisito). É uma ferramenta narrativa utilizado para aumentar tanto a tensão narrativa quanto o suspense da história, além de servir para enxugar elementos desnecessários da trama.


Hoje entenderemos melhor esse conceito e veremos alguns exemplos.


O que é a Arma de Chekhov?


A Arma de Chekhov é um daqueles conceitos de escrita que vem para te salvar da armadilha de encher a história com detalhes soltos.


Ela sugere o seguinte: se você coloca um elemento na história, ele precisa ter um propósito mais tarde na história. Precisa avançar de alguma forma a trama. Precisa contribuir com a narrativa.


Senão, fica parecendo um bloquinho perdido no cenário, sem função, tipo uma peça de Lego que não se encaixa em nada.

Se for colocar um bloquinho de Lego assim perdido no chão, que seja para alguém pisar nele enquanto foge da mãe com o chinelo na mão. Vê como o bloco de lego se torna mais importante para a história? Agora a criança vai cair e as coisas vão se desenrolar de outra forma.

Deste modo, a Arma de Chekhov é uma forma de evitar que o escritor faça falsas promessas ao leitor, ao evitar mencionar elementos que não influenciam na trama.

Nas palavras de Anton Pavlovich Chekhov: “Remova tudo o que não tiver relevância para a história. Se no primeiro ato você disser que há uma espingarda pendurada na parede, no segundo ou terceiro ato ela absolutamente deve ser disparada. Se não vai ser usada, não deveria estar lá.”
Foto em preto e branco de Anton Chekhov usando um monóculo, sentado com o cotuvelo esquerdo apoiado num grande livro e a mão apoiada na testa de forma pensativa.

Nada de enfeitar a história com elementos à toa!

Colocou na obra? É bom utilizar!


Como funciona a Arma de Chekhov?


Ela se baseia no lance de “setups” e “payoffs”.


Cada setup — ou seja, cada detalhe que você coloca na história e da enfâse — deve ter um payoff, um papel maior mais adiante na trama.


O Setup cria uma tensão dramática, e o Payoff a resolve causando alívio.


Esse ciclo de tensão e alívio faz o leitor virar página atrás de página.


Se você faz um Setup sem um Payoff, você esta desperdiçando o tempo do leitor.


Com a exceção dos casos em que tenha feito isso de propósito deixando uma pista falsa, algo chamado de Red Herring.

Exemplo de Red Herring: aquele clichê de história de policial onde uma pessoa é apresentada com uma arma misteriosa que aparenta ser a chave para solucionar o crime.  A trama toda hora aponta para aquela arma dando a entender que de fato é a arma do crime, mas no final era apenas um truque para desviar a atenção do público.

Desta forma, caso no começo da história você mencione que o personagem tem sei lá… um poder de mover objetos com a mente, mas ele não usa o poder a história inteira, o resultado é que a Arma de Chekhov ficou carregada em cima da mesa, sem nunca ser tocada.


Se algo na sua narrativa faz o leitor grudar na página, esse detalhe não tá ali à toa.


Ele tem que trabalhar, precisa ter uma função no todo da história.


Caso contrário, vira um enfeite sem propósito.


E sabe o que acontece quando você joga detalhes que parecem importantes, mas não levam a nada? Você tá escrevendo um cheque sem fundo!


Promete uma parada incrível, mas, no fim das contas, não entrega. Aí o leitor fica lá, frustrado, com aquela cara de "Sério? Só isso?"


Por favor, não faça isso!


Por outro lado, quando se coloca um payoff sem inserir um setup, acontece o famoso “deus ex machina” — um artifício de enredo fraco, uma solução milagrosa.

Exemplo: o herói vence o vilão parando o tempo do nada sem nunca ter mostrado que ele possuía esse poder antes, é como se ele disparasse a Arma de Chekhov sem ela nunca ter aparecido em cena.

O leitor vai ficar perdido e insatisfeito com a obra.

Desta forma, talvez podemos dizer que a Arma de Chekhov é um principio que facilita a vida do escritor na hora de elaborar Setups e Payoffs.


Diferença entre Foreshadowing (prenúncio) VS Arma de Chekhov


Muita gente confunde a Arma de Chekhov com o prenúncio (foreshadowing), então bora esclarecer isso rapidinho:


A Arma de Chekhov é um acordo silencioso entre autor e leitor de que nada na história está ali à toa. Se você gastou tempo para destacar alguma coisa, tem que justificar mais tarde o motivo daquilo aquilo ser importante. É como prometer que uma pista vai levar a algum lugar — e de ela fato levar.


Já o foreshadowing é mais sutil. Ele joga pistas no caminho, mas de um jeito que o leitor só percebe sua conexão lá no final, quando tudo já faz sentido e se conecta.


Se fossemos voltar ao exemplo da pessoa que move objetos com a mente, no foreshadowing não seria necessário falar diretamente que ela tem essa habilidade, mas sim dar indícios que farão o leitor a desconfiar, mas que só será confirmado na hora do payoff.

Enquanto na Arma de Chekhov você pode muito bem falar que tinha uma arma pendurada na parede. 

Modos que a arma de Chekohv pode ser utilizada.


Um equivoco comum é achar que ela só se aplica a objetos.

Quando na realidade ela pode ser aplicada a acontecimento, personagens ou até mesmo a conceitos abstratos introduzidos na história.


Um exemplo seria a Em Matrix, a ideia da dúvida sobre a realidade, plantada por Morpheus na mente de Neo é um conceito abstrato que serve como setup. Eventualmente, essa dúvida se torna a base para a transformação do personagem e o desenrolar da trama. (o Payoff)

Outro equívoco é achar que tudo introduzido na história precisa ter uma importância imediata. A arma de Chokohv permite que você introduza algo agora e que só terá relevância la na frente, ou seja, você pode adiar o Payoff.


Um excelente exemplo onde o payoff é adiado:

Spoiler de Breaking Bad


Em jogo vorazes temos um ótimo exemplo da arma de Chekohv aplicado a habilidade de um personagem, serve até de foreshadowing para o clímax da obra.


Spoiler de Jogos Vorazes.

Algumas dicas para aplicar essa ferramenta na sua história.


  • Planeje seu enredo

    Antes de sair escrevendo, tenha clareza sobre o que você quer contar. Identifique os elementos (objetos, personagens ou eventos) que vão desempenhar um papel importante mais pra frente. Isso te ajuda a evitar promessas vazias. E claro na reescrita às vezes você pode vir amarrando essas pontas solta.


  • Insira detalhes despretensiosos.

    Adicione no começo da narrativa uns elementos que pareçam meio irrelevantes à primeira vista. Esses são os “bloquinhos de LEGO” que você vai usar lá na frente para construir algo maior.


  • Faça conexões ao longo da trama.

    Conforme a história avança, mostre como esses detalhes aparentemente soltos se conectam ao enredo principal. Pode ser numa fala, numa ação ou até num evento que deixa o leitor com a pulga atrás da orelha.


  • Hora do payoff!

    No momento certo, mostre o significado dos elementos que você plantou. Busque com essa revelação surpreender ou satisfazer o leitor, fechando o ciclo de tensão e alívio que mantém a história viva.


E assim, acho legal destacar que você não precisa seguir a Arma de Chekhov ao pé da letra, retornando a cada detalhe da história de forma obsessiva.


Pense nela como um lembrete prático: evite elementos desnecessários no texto.


Cada detalhe deve ter um propósito claro — enriquecer a trama, despertar curiosidade ou levar a história adiante.


Em resumo, foque nos detalhes que realmente importam. Afinal, ninguém gosta de tropeçar em peças de LEGO que não levam a lugar nenhum.

 
 
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