A Magia das Primeiras 10 Páginas: O Segredo de um Livro de Sucesso
- O. Erick Trautvein
- 26 de nov. de 2023
- 6 min de leitura
Você sabia que as primeiras 10 páginas do seu livro podem determinar seu sucesso ou fracasso?
Imagine-se em uma livraria, olhando as prateleiras cheias de possibilidades. O que faz você escolher um livro em vez de outro? Muitas vezes, é o poder das primeiras 10 páginas. Essas páginas iniciais são a alma de um livro, o momento decisivo onde o leitor decide continuar a jornada ou fechar o livro para sempre.
Neste artigo, exploraremos o porquê dessas páginas serem tão cruciais e como podem transformar uma história comum em um fenômeno literário. Prepare-se para mergulhar no coração da escrita criativa e descobrir a arte de cativar o leitor desde o primeiro parágrafo.
A Primeira Impressão é a que Fica:
Assim como um primeiro encontro ou uma entrevista de emprego, as primeiras impressões são cruciais. As primeiras páginas de um livro funcionam como um cartão de visitas. Elas conseguem capturar ou perder a atenção do leitor. Um início envolvente é essencial para seduzir o leitor a se embrenhar na sua aventura.
Na escrita gosto de pensar que a Primeira impressão é o que fisga o leitor.
Um exemplo de livro que li a coleção toda por te sido fisgado pela primeira frase (nem foi as primeiras páginas, pois essas eram arrastadas), foi a Guerra do Velho do John Scalzi, onde ele começa com o seguinte:
No meu aniversário de 75 anos fiz duas coisas: visitei o túmulo da minha esposa, depois entrei para o exército
Não sei você, mas após ler essa frase estou disposto a ler mil páginas.
Ela abre infinitas possibilidades na mente e nos deixa ansiosos para embarcar na leitura e ver aonde dará. É isso que você quer fazer com o início do seu livro, dar um gostinho do que será o resto da aventura.
E claro que às vezes um texto pode começar bom e depois ficar ruim, mas é raro um texto começar ruim e depois ficar bom. Uma das críticas que encontrei enquanto pesquisa sobre esse tema, era sobre obras (principalmente no cinema) que começam bom, mas o autor não consegue manter o nível da obra do começo ao fim e isso acaba estragando a experiência. Então: hey! Capricha no começo, mas não esquece do resto.
A Perspectiva de Syd Field sobre as Primeiras Páginas.
Não quero fazer um argumento de autoridade, mas é interessante trazer a opinião de alguém que trabalhou na indústria de Hoollywood selecionando histórias.
As primeiras dez páginas de seu roteiro são as mais absolutamente cruciais. Nas dez primeiras páginas o leitor saberá se sua história funciona ou não; se foi bem apresentada ou não. Este é o trabalho do leitor. Syd Field, Manual do roteiro, pg. 57
Syd Field, com sua experiência como chefe do departamento de histórias da Cinemobile, onde lia inúmeros roteiros todos os dias, desenvolveu uma percepção afiada sobre o que faz um roteiro se destacar.
Ele afirma que você tem 10 páginas para estabelecer 3 coisas:
Quem é seu personagem principal. É através deste personagem que o público irá experimentar a jornada narrativa, tornando-o um elemento chave para atrair e manter o interesse na história.
Qual a premissa dramática — isto é, sobre o que é a sua história. É essencial definir claramente sobre o que é a história, qual é o seu tema central ou a mensagem principal.
Qual é a situação dramática do seu roteiro. As circunstâncias que envolvem a história, que estabelecem o cenário para o desenvolvimento do enredo e dos conflitos.
E claro, ele tem uma visão focada em Roteiro de Filmes e histórias que serão comercializadas em Hollywood, mas isso também vale para livros. E embora a maioria das pessoas que leem meus textos sejam, autores independentes que vivem uma realidade totalmente diferente de quem escreve para o cinema, ainda é válido ter noção da importância de caprichar no começo da sua história.
Talvez num livro você tenha um pouco mais de 10 páginas para mostrar sobre o que é a história, mas na era de redes sociais e Tic Tac onde a maioria das pessoas tem a atenção de um repolho, eu não contaria com isso.
A Imagem de Abertura Segundo Jessica Brody
Trazendo a visão de alguém que escreve livros e romances para complementar o que é interessante ter nas primeiras páginas do seu livro, temos o conceito de Imagem de abertura que é ridiculamente semelhante ao que o Syd Field fala sobre o começo de uma história.
Segundo Jessica Brody, a Imagem de Abertura numa narrativa deve incluir os seguintes elementos:
Apresentação Visual do Herói: Uma cena que mostre claramente quem é o personagem principal, introduzindo-o de maneira visualmente impactante.
Contexto do Mundo ou Vida do Herói: A cena deve ilustrar o ambiente ou as circunstâncias em que o personagem principal está inserido antes do início da sua jornada.
Estabelecimento do Tom da História: A imagem de abertura deve refletir o tom geral da narrativa, seja ele sombrio, alegre, misterioso ou outro.
Sugestão de Conflito ou Tema Central: Idealmente, essa cena inicial deve oferecer pistas ou indícios sobre os conflitos, ou temas principais que serão explorados ao longo da história.
This is the first beat of Act 1 and it serves as a “before” snapshot of your main character, where you visually show, in a single scene, who your hero is and what their world or life is like. Jessica Brody
O que evitar no começo do meu livro?
Ok, até aqui vimos o que é ideal ter no começo do livro, mas e quanto ao que devemos evitar? Com certeza existem diversos “erros” que estragam a experiência do leitor.
Separei alguns que podem ser facilmente evitados por você.
Evite clichês.
Quer um clichê maior do que dizer para evitar clichês? Ha-hah
Mas sério, ninguém quer ler uma história que começa igual a 100 outras histórias. A menos que você esteja sei lá, escrevendo um conto de fadas, por favor não comece com “era uma vez” ou algo parecido.
Ao ler queremos experienciar sensações novas, conhecer mundos e personagens desconhecidos, por isso aceitamos em entrar numa aventura com sua história, dê isto a seus leitores. Nada de ficar com preguiça e começar com o despertador tocando, ou descrevendo o tempo, ou se olhando no espelho enquanto descreve a aparência do personagem.
Sério, seja criativo e surpreenda o leitor, ou melhor, nocauteei o leitor!
Veja como Chuck Palahniuk faz em Clube da Luta no primeiro parágrafo:
“Primeiro Tyler me arruma um emprego de garçom, depois enfia um revólver na minha boca e diz que o primeiro passo para a vida eterna é morrer. Por muito tempo Tyler e eu fomos grandes amigos. As pessoas estão sempre me perguntando se conheço Tyler Durden. Com o cano da arma quase encostado no fundo da minha garganta, ele afirma: – Ninguém quer morrer de verdade.”
Você é quase obrigado a continuar lendo, você precisa ver no que vai resultar.
Evite aberturas lenta:
Foi se o tempo onde a leitura era a única forma de entretenimento, o público mudou. Hoje quer queira ou não, estamos competindo pela atenção da mesma forma que os videogames, as redes sociais, os tic tac e outros milhões de aplicativos.
Iniciar a história devagar entediará os leitores. É melhor começar direto no cerne da história. Nada de ficar enrolando com descrições longas, florear de detalhes, encher de Backstory ou fazer info-dumping do cenário lindo e maravilhoso que você criou.
Terá outros momentos para mostrar seu mundo ao leitor.
Nesse começo precisamos ir direto ao ponto! E nada como esse trecho de um vídeo do raoni marqs para ressaltar essa ideia.
Historias não tem tempo a perder — seja qual for a cena que você quer contar, conte apenas o necessário. Se você contar sobre um piloto de corrida, não mostre ele na auto-escola, mostre ele dentro do carro prestes a dar largada. Comece a cena tão tarde que se ela começasse um segundo depois, nós já não entederiamos nada. ~raoni marqs
Conclusão: A Arte de Conquistar Leitores desde a Primeira Página
Ao finalizar nossa jornada pelo fascinante mundo das primeiras páginas de um livro, fica claro o poder que elas detêm. Seja através da sabedoria de Syd Field, com sua abordagem direcionada para o roteiro, ou pelas dicas práticas de Jessica Brody, entendemos a importância de capturar a atenção do leitor desde o início.
Clichês, aberturas lentas, e descrições desnecessárias são armadilhas a serem evitadas.
Em vez disso, opte por iniciar sua história com impacto, levando o leitor diretamente para o coração da ação, do conflito ou da emoção.
Lembre-se, cada palavra conta e cada página é uma oportunidade de fascinar seu público.
Num mundo onde as opções de entretenimento são infinitas e a atenção do público é um bem precioso, o início do seu livro não é apenas um começo, mas precisa ser um convite sedutor para uma aventura inesquecível.
Portanto, ao se sentar para escrever, faça das primeiras páginas a sua prioridade.
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